Aldir Blanc se foi…
Aldir Blanc se foi e com ele se foi também grande parte da poesia e grandeza da música popular brasileira e um pouco da nossa esperança num país melhor e mais justo, num futuro com mais beleza, mais música de qualidade e mais arte. Letrista genial sabia como ninguém retratar em suas canções as situações do cotidiano, dos amores, da crítica social, de fatos históricos etc. Tudo com a maestria de um porta-voz de nossas aflições e sentimentos, artífice do verso que com rimas inteligentes e, muitas vezes, inusitadas de quem é íntimo da palavra e fez dela sua vida e seu ofício de fé.
Deixa um dos mais importantes legados da nossa música popular, construído com diversos e ilustres parceiros como Sueli Costa, Maurício Tapajós, Cristovão Bastos, Guinga, Moacyr Luz, Carlos Lyra, Ivan Lins entre tantos outros e interpretado por grandes nomes da nossa MPB tais como Leila Pinheiro, Nana Caymmi, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Maria Alcina dentre alguns dos principais.
Mas foi na sua parceria com o cantor e compositor João Bosco e na voz e interpretações magistrais de Elis Regina, sua fã confessa e que passou a ter a primazia na escolha das composições da dupla, gravando vinte dessas canções, que Aldir deixou várias das maiores pérolas da nossa música popular, entre elas “O Bêbado e Equilibrista”, “O Mestre Sala dos Mares”, “Transversal do Tempo”, “Bala com Bala”, “Dois pra Lá Dois pra Cá”, “Rancho da Goiabada”, “Corsário” todas em parceria com João Bosco”.
Autor de mais de seiscentas canções em sua carreira como compositor, além das suas próprias, a lista também é vasta com outros parceiros também, como por exemplo: “Catavento e Girassol” e “Baião de Lacan” com Guinga, “Resposta ao Tempo” com Cristovão Bastos; “Querelas do Brasil” e “A Louca” com Maurício Tapajós, só pra citar algumas.
Pois é Aldir se foi, mais uma vítima da covid-19 que tem ceifado tantas e tantas vidas… E nós ficamos todos um pouco mais tristes com o vácuo que essa perda causou e a falta que o talento, a inteligência, a “malandragem”, a sagacidade e o olhar crítico e atento do poeta e escritor fará para o Brasil e para nossa Arte e Cultura.
Redação do SFA,
São Paulo, 04 de maio de 2020.
Julio Bellodi
(Maestro, compositor, poeta, pesquisador e mestre em música pela UNESP)